Façam justiça a Jesualdo!
Olho para Jesualdo Ferreira e vejo um vencido da vida. Tem grande mérito, fez um trabalho impecável ao serviço do FC Porto, propiciou o crescimento de jogadores e conquistou, até hoje, seis títulos. Apesar de tudo isso, argumentos sólidos e inegáveis, continua a ser olhado com alguma desconfiança. Jesualdo venceu três campeonatos seguidos, dando seguimento ao título alcançado com o holandês Co Adriaanse. Foi o primeiro português a fazê-lo. Mas não convenceu totalmente. Juntou-lhe duas Taça de Portugal e uma Supertaça. Disse-se que não fizera mais do que a sua obrigação. O domínio imposto pelo FC Porto, em Portugal, nas três anteriores temporadas, com Jesualdo Ferreira ao leme, foi avassalador, sobretudo na segunda época do professor no Dragão. Ganhou por mérito próprio ou por demérito alheio? A larga maioria opta pela segunda hipótese. Apostamos?
Das quatro épocas em que esteve (e ainda está, sim!) à frente do FC Porto, Jesualdo Ferreira conquistou três títulos de campeão nacional. Falhou agora. Mesmo assim, contudo, começou e acabou a temporada com vitórias que garantiram troféus, aumentaram a colecção de títulos conquistados pelos dragões e recheando ainda mais o impressionante currículo de Pinto da Costa. A época do FC Porto, do FC Porto tetracampeão que vinha passeando a sua superioridade, juntando a isso boas prestações na Liga dos Campeões, foi considerada negativa. Ganhar a Supertaça, ante o Paços de Ferreira, e a Taça de Portugal, ante o Desportivo de Chaves, sabe a pouco aos portistas. Sabe a pouco devido a essa habituação recente a estar na linha da frente no campeonato. Aí, no grande objectivo da época azul, os dragões falharam. O título e, até, a presença na Champions - de onde, nesta temporada, saíram sem glória.
Tiremos os meios-termos: a época do FC Porto foi negativa, leitor? Uns dirão que sim, por tudo aquilo que se escreveu acima, por ter deixado o título para o Benfica e ter visto o Sp.Braga, sensacional, o ter suplantado na corrida pela Liga dos Campeões. Não alcançar o pentacampeonato, o segundo do seu historial, é sinónimo de fracasso. Outros, menos extremistas e mais fiéis aos troféus conquistados, dirão que foi razoável. Ou suficiente, sem que possa considerar fracassada: a Supertaça e a Taça de Portugal, embora não sendo primordiais, sempre são dois títulos ganhos. Mudemos os moldes da questão: se fizermos um inquérito ao universo portista, todos dirão que trocariam os dois troféus conquistados por um triunfo no campeonato nacional. Outros anos houve em que os dragões não conseguiram a Supertaça e caíram da Taça de Portugal, mas venceram o campeonato e isso foi o mais importante. Apostamos? Não me parece que seja necessário...
No início da temporada, o FC Porto apelou ao sentido construtivo de Jesualdo Ferreira. Perdeu muita matéria-prima e esperou que o professor, como fizera em anos anteriores, montasse uma equipa capaz de se sagrar campeã nacional. Não contavam, porém, com os excelentes resultados do super-investimento do Benfica nem com a extraordinária campanha de um Sp.Braga melhor do que nunca. O FC Porto perdera Lucho González e Lisandro López, sendo que se pode ainda incluir Aly Cissokho na short list de titulares indiscutíveis que abandonaram o Dragão. Jesualdo Ferreira fez o que pôde para os substituir, para colmatar as vagas e, de novo, colocar a máquina azul em funcionamento para o título. Não deu. Porque cometeu erros, é certo, mas porque os adversários não lhe perdoaram um deslize que fosse.
O meu objectivo, leitor, não é colocar Jesualdo Ferreira nos píncaros. Não é, agora que está de malas aviadas para sair do FC Porto, fazer de Jesualdo o treinador perfeito. É, somente, fazer justiça. Desde o Verão de 2006, quando assinou pelos dragões, o professor conquistou seis títulos, foi verdadeiramente importante no crescimento e formação de vários jogadores, melhorou e fez melhorar o clube. Entregou-se de corpo e alma ao FC Porto, foi um escudo que sempre apareceu em defesa dos seus, nunca se escondeu nos piores momentos. Acabou por triunfar. Este FC Porto, contudo, precisa de um abanão. Daí que tenha que existir essa mudança de paradigma, cortando com o passado, olhando ao futuro. Já Thomas Kuhn o dizia. O futebol é feito de ciclos e o de Jesualdo Ferreira chegou ao fim. É simples. Mas, por favor, não desvalorizem o que foi feito!...
Hugo
Mais uma boa crónica do Ricardo, parabéns.
Quero um treinador novo, com garra, que não fique especado no banco, com futebol bonito e forte psicologicamente.