CAMPEÕES AO JEITO DE GARCÍA MÁRQUEZ
Gabriel García Márquez, escritor colombiano, lembrou-se, no início da década de oitenta, de começar um livro pelo final. Ao termos contacto com as primeiras passagens da história, bastando poucas folhas, já sabíamos como iria acabar. Mesmo assim lemos até ao final. Poderia, sabe-se lá, estar reservada uma qualquer surpresa, um desfecho surpreendente, uma completa anulação do que havia sido narrado no início. Pura ilusão. É, contudo, precisamente essa ilusão, essa crença de que algo irá ser alterado e que o enredo não poderá terminar tão facilmente como fora descrito, que atrai no livro de García Márquez. E daí vem todo o sucesso obtido. Afinal de contas, chegados ao último capítulo, tudo se confirma. Ninguém se lembraria de semelhante. Este campeonato português de futebol foi parecido: manteve o suspense até à última jornada, foi indefinido até ao fim, mas confirmaram-se duas tendências anunciadas: o Benfica foi campeão, o Sp.Braga morreu.
O Sp.Braga deste campeonato pode ser o Santiago Nasar do livro de García Márquez. O jovem Nasar, que gostava de se divertir mas não fazia mal a uma mosca, tinha a sua sina traçada desde o princípio. Iria morrer. Mais tarde ou mais cedo, não interessa, era mais do que certo o que lhe aconteceria. Aos olhos dos mais cépticos, o Sp.Braga também iria acabar por quebrar no campeonato. As vitórias de início de época, suplantando todos os adversários e mantendo-se agarrado ao primeiro lugar, seriam apenas um fogacho. Os bracarenses estavam, no fundo, a aproveitar bem enquanto os grandes não despertavam e assumiam o seu poder: foi esta a visão inicial. O desenrolar do campeonato serviu, contudo, para mostrar que o Sp.Braga crescera, adquirira novas dinâmicas e estava mesmo apostado em lutar pelo título. Superou o Sporting, depois o FC Porto. Mesmo assim tinha o seu destino, inapelável e cruel, à espera.
O Sp.Braga acabou por não chegar ao título. Morreu, portanto. Quem, no início, previa uma queda acertou. É assim tão simples? Não! Esta seria uma visão redutora, injusta e sem sentido. O Sp.Braga não chegou a campeão, é certo, mas o segundo lugar alcançado pela equipa de Domingos Paciência não pode, de forma alguma, ser visto como uma derrota. Não é o primeiro dos últimos. Este campeonato serviu para comprovar a qualidade do plantel arsenalista, capaz de catapultar o clube e a cidade, uni-los em torno do futebol, fazer chegar o Sp.Braga à fase inicial da Liga dos Campeões. É um feito histórico, com uma pontuação invejável de setenta e um pontos conquistados. Em épocas anteriores, com os rendimentos obtidos, o Sp.Braga teria sido campeão nacional. Nesta, porém, não foi. Tem culpa? Nenhuma. Perdeu porque o Benfica se agigantou, mostrou uma força há muito esbatida, reapareceu com grande valia.
O título do Benfica foi plenamente merecido. Os encarnados foram quem melhor jogou, quem conseguiu unir o bom futebol às vitórias - muitas delas por números gordos -, juntou um ataque realmente demolidor (setenta e oito golos) a uma defesa com apenas vinte golos sofridos. O Benfica de Jorge Jesus, um dos maiores responsáveis pelo sucesso benfiquista, foi a melhor equipa do campeonato, a mais regular e consistente. Justificou o título na plenitude. Um título que era, também ele, anunciado. A vontade de ganhar do Benfica, o espírito de lutar sempre até ao último instante, de querer sempre atingir mais e nunca se contentar com o que possuiu, imbutido por Jorge Jesus aos seus jogadores, vem desde a pré-temporada. Foi aí, justamente, que os encarnados começaram a ganhar, ao conectar o seu plantel com adeptos em vista a um único objectivo: o título nacional. Foi alcançado com sucesso. Não podia ser esta a crónica de uma conquista anunciada?
Uma excelente analogia, gostei mesmo.
Parabéns ao Ricardo Costa
Mais uma excelente crónica do Ricardo, farei chegar os seus elogios ao mesmo.
Cumprimentos
Benfica e Braga mereceram tudo o que conseguiram neste campeonato. Mais mérito deles do que dos adversários.
Continua Ricardo
Queria também dar os parabéns pela nova imagem e novo funcionamento do blogue. Gostei bastante.
Hugo
Hugo
Sendo assim, saúdo o seu "regresso".
Caro Hugo, agradeço os elogios ao blog, bem como à crónica de Ricardo Costa.
Cumprimentos a ambos
A ideia é mesmo essa, melhorar a cada dia que passa. Tem sido uma experiência francamente positiva.
Abraço