AS VITÓRIAS SÃO TODAS IGUAIS?
Há vitórias e vitórias. Diriam os soldados que dedicaram uma canção militar a monsieur Jacques de La Palice que umas sabem bem e outras não. Normalmente são sinónimo de alegria, é por elas que qualquer jogador corre, luta, se entrega e são a recompensa que todos ambicionam conquistar no final. O sabor, contudo, pode variar. Pode haver vitórias amargas, insuficientes, como se fosse um verdadeiro mal que ali chegou. Não interessa ganhar nessas condições, obviamente. A vitória foi alcançada, sim, mas é pouco, não há motivo para sorrir, a festa é de outros. Custa a encaixar. É como a vitória do Barcelona, em casa, sobre o Inter. De que valeu aquele triunfo se a eliminatória foi perdida? De que valeu jogar melhor, sufocar o adversário, ter uma posse de bola brutal, estar sempre próximo de marcar? Nada.
O Inter, mesmo perdendo em Camp Nou, chegou à final da Liga dos Campeões. Com justiça ou não, é irrelevante. O futebol nunca foi muito justo nem lógico, não o seria agora. O que interessa é que a 22 de Maio, os nerazzurros estarão no Santiago Bernabéu com o Bayern de Munique pela frente. Pode-se questionar, repreender e recusar a filosofia de José Mourinho, jogando somente à defesa e deixando o ataque de lado. Não é bonito, muito menos é futebol. Questionamo-nos ainda mais porque, para além dessa postura, foi um perfeito oposto do Barcelona, daquele futebol tricotado dos blaugrana, do passa e repassa, da magia espalhada. Mas o plano de Mourinho resultou, o super-Barça foi travado, o Inter, sem o esplendor de outrora, tombou o campeão europeu. Mou correu, festejou, alimentou o ego. A impotência tomou conta do Barcelona.
A vitória do FC Porto sobre o Benfica, no clássico do Dragão, tem um sabor estranho. É óptimo para os portistas por ser contra o rival de sempre. Por outro lado, porém, de pouco adianta numa época em que o ainda tetracampeão falhou o objectivo de chegar ao quinto título consecutivo e teve a certeza que não sairá do terceiro lugar, ficando, oito anos depois, de fora da Liga dos Campeões. Não é, portanto, motivo para júbilo. Mas os dragões festejaram, soltaram toda a raiva contida, fizeram-no em grande, quase como se aquela vitória valesse um título. Faz sentido? Sim. E muito. Uma vitória sobre um adversário directo é, por si só, importante. Este triunfo do FC Porto sobre o Benfica, aliado a outro do Sp.Braga, impediu a coroação imediata dos encarnados. Ver o adversário festejar no Dragão, debaixo do seu nariz, seria o pior pesadelo portista. Por isso foi tão, tão comemorado. Tratava-se, afinal, da honra azul. Não foi uma simples vitória.
Uma vitória é também o que separa o Benfica do título. Os encarnados tremeram no Dragão, mas parece ter sido um mero adiamento. Mesmo sem Di María, Javi García e Fábio Coentrão, as chamadas baixas em combate resultantes do duelo com o FC Porto, justamente vencido pelos portistas, o Benfica tem todas as condições para vencer o Rio Ave, na Luz, e confirmar a conquista do seu trigésimo segundo título de campeão nacional. Conquistado na linha de meta, mesmo no final, num último suspiro. O principal culpado desse constante adiamento é o Sp.Braga. Ganhando com sorte (como foi o caso) ou não, com boa exibição ou não, com classe ou não, os minhotos mantêm-se na luta até final. E anseiam por um deslize do Benfica. Ainda é possível! Aí, sim, essa vitória será muito mais do que uma simples vitória. Será um marco na História.
Escrita estruturada, cuidada e o tema que mais gostámos.
Parabéns
Ver o Benfica festejar no dragão seria feio. Estou a torcer pelo Braga, a equipa mais competente do campeonato.
Hugo