GUERREIROS DO MINHO
Não sei quem terá tido a ideia de apelidar o Sp.Braga de Guerreiros do Minho. Foi uma escolha acertada, feliz como poucas, para uma imagem de marca que acompanha os bracarenses desde o início da época. Os jogadores do Sp.Braga têm revelado espírito de luta, nunca baixando a guarda, estando permanentemente a deixar o seu cunho nos livros, reunindo uma legião que cada vez se alastra mais. Estiveram jornadas na liderança. Há muito mérito nisso, obviamente, já que nada surge como obra do acaso. Após a derrota ante o FC Porto, o Benfica isolou-se no primeiro lugar. A luta mantém-se. Agora, o papel do Sp.Braga passa por adiar ao máximo a consagração do rival, ganhando para pressionar e esperar uma falha para, aí sim, colocar a cereja no topo do bolo. É cada vez mais difícil. Não por culpa própria, certamente: os minhotos têm feito o que está ao seu alcance. São guerreiros na verdadeira acepção do termo.
Esta é a melhor época de sempre do Sp.Braga no campeonato português. A duas jornadas do final, a equipa de Domingos Paciência tem sessenta e sete pontos conquistados - menos seis do que o Benfica. Poderá o leitor argumentar que o Sp.Braga não conseguiu entrar na fase de grupos da Liga Europa, ficou-se pela primeira parte da Taça da Liga e caiu ante o Rio Ave, após ter vencido o Freamunde, na Taça de Portugal. Tudo isso é correcto. Parecerá, então, algo paradoxal e descabido dizer-se que esta é a melhor época do historial do Sp.Braga. Não o é, contudo, se apenas nos limitarmos à análise do campeonato nacional. E aí, onde os minhotos depositaram verdadeiras esperanças de serem bem-sucedidos e poderem abalar o domínio há muito mantido pelos grandes, a prestação superou todas as expectativas. O Sp.Braga, embora de forma ténue, ainda está na luta pelo título. Nunca estivera em posição tão privilegiada para deixar a sua marca na História.
O percurso do Sp.Braga começou por ser surpreendente. Nove jogos invicto, abrilhantado por vitórias em Alvalade e nas recepções a FC Porto e Benfica pelo meio, somente escorregando em Vila do Conde (empate), alimentaram a esperança bracarense em que, afinal, era mesmo possível ser feliz no final do campeonato. Era, porém, apenas o início do campeonato. Poderia não passar de uma surpresa, um fulgor inicial, uma tendência que acabaria por se esbater e, por isso, eram necessárias cautelas para que a queda, a acontecer, não tivesse sérias consequências. Não foi só fogo de vista. Agora, fazendo uma retrospectiva, vemos que se tratou do início de uma caminhada extraordinária no campeonato português. Com vinte e oito jornadas cumpridas, o Sp.Braga tem vinte e uma vitórias, quatro empates e três derrotas. Perdeu o derby minhoto com o Vitória de Guimarães, na décima jornada, após ter imposto a única derrota ao Benfica; saiu goleado do Dragão e, naquele que se apelidou de jogo do título, perdeu na Luz.
No meio de tudo isto, o Sp.Braga teve um tremendo azar. A caminhada sensacional dos arsenalistas, cada vez mais aproximando-se dos grandes e evidenciando as diferenças para com os restantes clubes, esbarrou num Benfica forte, empolgante e triunfante como há muito, muito não se via. A única equipa que conseguiu contrariar os encarnados, derrotando-os e alimentando a luta até final, foi, porém, o Sp. Braga. Louve-se por isso, já que Sporting, primeiro, e o tetracampeão FC Porto, mais recentemente, acabaram por ceder: perante Benfica e Sp.Braga - ao que tudo indica, a menos que haja duas jornadas verdadeiramente más para os encarnados, o Benfica será o novo campeão nacional: só depende de si e pode, inclusive, confirmar a conquista do seu trigésimo segundo título no campeonato português já no próximo domingo, caso consiga pontuar no Dragão.
O Sp.Braga é uma equipa adulta. Sabe o que quer, encara os jogos com pragmatismo, é brilhante quando pode e está confiante para isso, usa armas como a coesão e a extraordinária entreajuda na maioria das vezes. Faz valer, sobretudo, a enorme fortaleza que é a sua zona defensiva - nos vinte e oito jogos realizados, sofreu dezanove golos, apenas mais três do que o Benfica. A saída de João Pereira na reabertura do mercado, a longa exclusão de Vandinho logo após, a lesão de Mossoró no decorrer do jogo ante o Benfica e os problemas que ultimamente têm afectado Hugo Viana poderiam ter sido duros golpes na ambição minhota. No entanto, também aqui o Sp.Braga mostrou capacidade, alternativas, valor num plantel bem constituído: Filipe Oliveira assentou à direita da defesa, Andrés Madrid no centro, Luis Aguiar tem mostrado toda a sua valia. Not bad. O poder financeiro para com os grandes é incomparável. António Salvador, o presidente, tem um papel fundamental para o equilíbrio do clube.
Para quem gosta de estatísticas, olhando somente à frieza dos números, este Sp.Braga, com duas jornadas a menos, já superou o Sporting campeão com Laszlo Bolöni, o Benfica de Trapattoni ou o FC Porto da temporada transacta. Esse é, talvez, o melhor elogio que se pode fazer à campanha dos minhotos neste campeonato. Mesmo não chegando ao título, um sonho que ninguém pode afirmar ter sido demasiado ousado, o Sp.Braga confirmará a vice-liderança e estará, por isso, no lugar de acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Será um feito inédito, soberbo e impensável no início da época. Em Braga, contudo, ainda ninguém baixou os braços em relação ao título: é difícil mas ainda possível. Daí que, embora a razão desaconselhe, a mente acredite. Verdadeiros guerreiros são assim: lutam até ao final sem escusas.
Parabéns a todos no clube, dirigentes, equipa técnica, jogadores, médicos e companhia - são o meu ORGULHO!
Hugo
Cumprimentos