Uma vitória esperada


Holanda e Espanha nunca foram as minhas equipas preferidas. Mas, por outro lado, sobretudo aos espanhóis, sempre lhes reconheci valor para chegarem longe. À final ou às meias-finais, não sei. Foram as que conseguiram a final, isso é o mais importante. Uma competição como um Mundial, na sua final com o troféu que espreita e espera que alguém lhe coloque a mão em cima, é especial. O jogo começou bem. Com mais Espanha. Muito mais. Nada que não fosse de prever. Os holandeses deram o pontapé de saída e a bola mudou de dono. A selecção espanhola ficou com ela, circulou-a, tocou de pé para pé, passe longo ou comprido, sempre com alta posse de bola. Criou oportunidades, ameaçou, quis resolver cedo. Não conseguiu. Maarten Stekelenburg, guarda-redes holandês, foi melhor. Essa foi uma das principais razões.

O jogo, depois, endureceu. Intenso, lutado como uma final tem que ser e demasiado ríspido. Howard Webb teve que se adaptar a uma nova realidade. É algo que os árbitros ingleses fazem bem: em Inglaterra joga-se de uma forma, nas grandes competições o modelo é outro. Recorreu aos cartões com frequência. Mostrou amarelos e até perdoou expulsões. A fluidez do jogo perdeu-se. Ganhou tempos mortos, pausas, entradas duras e muitos apitos. Até às vuvuzelas perderam intensidade. A Holanda tinha a sua estratégia: não deixar Espanha jogar, tirar-lhe a bola, ser expedita nas saídas para ataque e, se necessário, jogar com virilidade. Iker Casillas, colocado à prova, respondeu sempre bem às ocasiões dos holandeses. Houve equilíbrio, algumas oportunidades repartidas e maior ascendente espanhol - sem ser massacrante.

Tiki-taka, passa, repassa, gira e volta a dar. O futebol da Espanha é isto. Como o do Barcelona. Só com uma diferença. Substancial: à selecção espanhola, aliando a toda a capacidade para guardar e circular a bola, falta poder de fogo. Falta aquele toque de génio, aquele aproveitamento letal dos passes majestosos de Xavi e Iniesta, os dois pensadores que colocam o carrossel em funcionamento, que deixa passar todo o brilhantismo do jogo para o resultado. Esta Espanha não deslumbrou. Jogou muito, quase sempre assertiva, em todos os jogos superior ao adversário, até no tropeção (apenas isso, um tropeção!) inicial frente à Suíça, interpretando bem o plano que a levaria ao sucesso. Só que é o campeão mundial que menos golos marcou. Esteve bem, sim, mas poderia ter feito mais. Teve a bola e circulou muito. Não rompeu as defesas contrárias, sufocando, deixando o rival destroçado. O seu futebol teria outra beleza. Teria malvadez.

Robben perdera-se em zigue-zagues perante Casillas, por duas vezes. Stekelenburg, não querendo perder o duelo de guarda-redes, fechou os caminhos da baliza holandesa. Quando vi bater o minuto cento e quinze não acreditei que o jogo tivesse resolução até ao final do prolongamento. Seria nas grandes penalidades. E aí, apesar de tudo, conta a frieza e o discernimento que os jogadores conseguem ter. Nesse minuto a Holanda saiu para o ataque. Elia levou a bola e, perante Sergio Ramos, caiu. Falta, pareceu-me. Howard Webb mandou jogar. A Espanha aproveitou. Saiu para o ataque, jogou rápido, quis ganhar no momento. Era ali ou, possivelmente, só nos penaltis. Cesc Fàbregas lançou a bola para a área. Passava e Iniesta estava isolado. Não passou. À primeira, pelo menos, não. O que se faz? Insiste-se. Bate, bate e insiste. É um lema de La Roja.

O segundo passe resultou. Andrés Iniesta recebeu a bola, deixou-a a saltitar e olhou para a baliza holandesa. Stekelenburg tentou fechar o espaço, ser um muro intransponível. Sóbrio, frio e repleto de classe, Iniesta rematou forte. A bola só parou no fundo da baliza. Fora-de-jogo? Não, nada. Sneijder e Robben, as duas estrelas holandesas, desesperaram. Como Van Bommel ou Kuyt, irados, cercando Howard Webb. Não havia volta a dar. A Espanha marcara, estava em júbilo, festejava e sentia que a vitória não fugia. A vitória num Mundial, o primeiro que conquistou, para juntar ao Campeonato da Europa conquistado há dois anos. As lágrimas escorreram: os holandeses perderam a sua terceira final, os espanhóis alargaram o rol de campeões mundiais. A nação espanhola agigantou-se. Jogou, suou, trabalhou e ganhou. Don Vicente del Bosque manteve os princípios. Fez as suas mudanças, sim, mas não havia nenhuma ruptura para fazer. O estilo resultara com Aragonés. Como resultou agora. E como o Paul adiantara!

2 Response to "Uma vitória esperada"

  1. Anónimo quarta-feira, julho 14, 2010
    Claro que era uma vitória esperada, quem tem o Villar na arbitragem, tem tudo! Foram levados ao colo descaradamente! A FIFA devia ter vergonha!
  2. Anónimo quarta-feira, julho 14, 2010
    Foram beneficiados em vários lances, mas não vamos desvalorizar a vitória dos espanhóis no mundial. Tinham futebol e equipa suficiente para levar a taça e com mais ou menos ajudas lá conseguiram...