HOLANDA, ALEMANHA E ESPANHA: QUEM ESPERARIA?
Sempre acreditei no Brasil para a vitória no Mundial 2010. Não vendo em Portugal uma equipa com todas as condições para ganhar, virei-me para os brasileiros. Não por ser o país irmão nem por ser a selecção com mais conquistas mundiais (cinco). Apenas porque me pareceu a equipa mais forte até ao momento inicial do Campeonato do Mundo. E, até, uma formação mais pragmática, o que muitas vezes é uma vantagem em futebol, e menos ingénua. Isso tira-lhe espectacularidade, limita o talento puro e a magia. Por outro lado, contudo, dá-lhe maior segurança no jogo. Acredite no Brasil. Chegou aos quartos-de-final e caiu frente à Holanda. Esteve em vantagem, perto de ficar ainda mais confortável no jogo e, de repente, viu-se em sarilhos. Não conseguiu sair deles e acabou sem glória. O hexa, tão ansiado, falhou na África do Sul como falhara na Alemanha.

Sempre quis acreditar na Argentina para a vitória no Mundial 2010. Ou melhor: gostava que o conseguisse, não porque tenha algum afecto pelos argentinos, mas porque queria ver Diego Armando Maradona, uma lenda viva, voltar a triunfar. Deixando de lado os calções negros a baloiçar e vestindo aquele fato cinzento. Pelo que fez na fase de grupos e nos oitavos-de-final, jogando com convicção, ganhando comodamente e realizando boas exibições, pareceu-me que a Argentina, apesar de todas as tormentas da fase de apuramento, poderia ser bem-sucedida. Acreditei mesmo. Só que ainda não aparecera um adversário, com todo o respeito pelos outros, que colocasse verdadeiramente a albiceleste em tremuras. Foi a Alemanha. Um vendaval atacante, uma lição de bem interpretar os diferentes momentos do jogo e uma vitória categórica, pesada, por quatro golos. A Argentina ruiu pela base: desorganizada, sem capacidade para se resguardar dos alemães, demasiado permeável. Maradona, desolado, abalou. Com ele lá se foi a minha crença.
Nunca quis acreditar que Inglaterra, Itália e França, apesar de tudo o que representam, estariam na linha da frente para vencer o Mundial 2010. Deverá estar o leitor, por esta altura, a pensar: os dois últimos não, poucos acreditavam neles, mas a Inglaterra? Por que não se fez uma fase de qualificação imaculada? A verdade, porém, é que nunca me pareceu que os ingleses estivessem realmente preparados para voltarem a conquistar um título que ganharam pela única vez em 1966, no Mundial que realizaram. O futebol inglês é, quase de forma unânime, reconhecido como o melhor do planeta. Concordo: é o mais intenso, vibrante e envolvente. Mas a selecção é diferente. Pareceu, até, voltar às suas raízes, àquele kick and rush. A derrota nos oitavos, com a Alemanha, comprovou que a equipa de Fabio Capello, também réu, não esteve bem na África do Sul. De França e Itália, últimos em grupos acessíveis, sem vitórias, pouco mais se esperaria. O futebol de ambas está espremido, gasto e ultrapassado.
Com o tempo passei a acreditar na Alemanha e na Holanda. Nos alemães, sobretudo: venceram a Inglaterra e a Argentina, com duas exibições imperiais, voltadas para o ataque, quase perfeitas e com grande eficácia - quatro golos marcados a cada uma das selecções e apenas um sofrido, frente à Inglaterra. Por tudo isso é favorita. A maior favorita. Hoje discute com a Espanha, uma selecção que apesar de não estar a mostrar o seu futebol na plenitude, não sendo tão brilhante como se esperaria - embora a época no Barcelona, que serve como espinha dorsal para Vicente del Bosque, tenha sido muitíssimo desgastante -, chegou com mérito às meias-finais. Um deles, ou alemães ou espanhóis, disputará a final com a Holanda. Sim, a Holanda: não é mecânica, está diferente, mas provou ter talento, confiança e vontade de triunfar. Ganhou pujança na vitória sobre o Brasil e eliminou, bem, o Uruguai - outra boa surpresa. Alemanha, Espanha ou Holanda: um deles será campeão do Mundo. Quem esperaria?
(Crónica redigida no dia 06/07/2010)

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